Mad Men – Retrato de Uma Geração Série ambientada nos anos 60 merece atenção por diversos motivos

5 de maio de 2018

Os anos 60 foram um turbilhão de acontecimentos históricos que repercutem até hoje. A ascensão de John Kennedy à presidência americana talvez tenha sido a campanha mais significativa até a primeira eleição de Obama em 2008. Mais impactante que sua vitória foi seu assassinato em via pública. A música conheceu um fenômeno chamado Beatles que após o sucesso no Reino Unido conquistou milhões de fãs histéricas e adolescentes nos EUA, o impacto foi tão grande que toda a lógica da música pop foi baseada na beatlemania.

No ponto de vista sócio cultural os direitos civis entraram fortemente na pauta americana graças a movimentos liderados por Martin Luther King e Malcolm X. O movimento hippie e a contracultura questionaram o padrão do American Way of Life e muitos jovens não consideravam a Gerra do Vietnã como sua responsabilidade e sequer a julgavam legítima.  Não bastasse tudo isso, o homem chegou à Lua.

Uma década tão importante e tão impactante para histórica americana e mundial merecia uma série como Mad Men. Transmitida pelo canal AMC (HBO e TV Cultura no Brasil), a série teve sua estreia em 2007 e nos apresentou a vida dos publicitários na agência Sterling Cooper (que mudaria de nome diversas vezes com a evolução da trama) na famosa Avenida Madison em Nova York durante sete temporadas.

O protagonista da série Donald Draper (Jon Hamm) é um publicitário bem-sucedido com diversos prêmios em sua área e com uma família modelo (uma bela esposa e dois filhos). Entretanto, logo no episódio piloto percebemos que há algumas coisas estranhas neste universo perfeito de Don Draper. O que segue em diante nas sete temporadas é uma desconstrução total do protagonista. Desde cedo percebemos que seu problema com álcool é algo grave e que o adultério é praticamente um vício para escapar dos problemas cotidianos.

Contudo, a série aprofunda-se mais na vida do seu personagem principal e a cada nova descoberta passamos a entender mais suas atitudes. A experiência no exército, o convívio familiar durante a infância, o reencontro com o irmão, o convívio com o sogro, as experiências na Califórnia e muitas outros cacos da história de Don nos faz entender melhor a excentricidade do personagem e questionar um pouco o sonho Americano.

Apesar do protagonismo masculino, Mad Men é acima de tudo uma série sobre feminismo. E é nesse ponto que o enredo se destaca, o período histórico relatado era totalmente machista. Percebemos que as mulheres eram uma minoria muito menos representativa que hoje no mercado de trabalho e as poucas que por lá existiam não tinham muita, ou sequer nenhuma, expectativa de crescer em suas carreiras. No âmbito familiar muitas vezes a mulher é retratada como uma posse do marido.

Dentro deste contexto podemos destacar três personagens femininas. Peggy Olson (Elisabeth Moss em uma atuação soberba) inicia a primeira temporada como uma jovem secretária ingênua na agência de Don Draper. Porém muito rápido ela nota seu interesse e talento para função de redatora (quem assistiu a séria provavelmente lembrará do “cesto de beijos”). Baseado nisso, acompanhamos uma verdadeira guerra da personagem para tornar-se a primeira redatora mulher neste universo. Peggy tem uma das tramas mais interessantes, seja pela sua evolução como profissional ou por sua mudança de personalidade baseada em seu mestre Draper. No fim temos uma das melhores conclusões de personagem, uma vez que a própria não opta por um final “lacrador” que muitos queriam ver, mas sim pelo final que ela mesmo queria para si.

Joan Holloway (Christina Hendricks) é a chefe das secretárias na primeira temporada, assume o papel de femme fatale e muitas vezes não hesita em se relacionar com homens casados. Joan é outra personagem que cresce de maneira exponencial na série, ela domina o ambiente nocivo em que trabalha como poucos e sabe os passos que precisa dar para atingir seu objetivo. Seu ponto fraco é a vida amorosa que lhe traz diversas frustrações. É neste dilema que Joana (na versão dublada) desenvolve todo seu arco: uma mulher forte que domina seu ambiente de trabalho, mas que tem que conviver com os dilemas de uma sociedade que não respeita as mulheres em sua vida afetiva.

Elas

Joan e Peggy: dois arcos femininos impactantes de Mad Men.

Também vale o destaque para Sally Draper (Kiernan Shipka), a personagem que inicia criança e termina adolescente passa por uma das maiores transformações durante as temporadas. Sally tem uma infância conturbada com diversas situações delicadas devido ao estilo de vida de seus pais, entretanto, esta é a chave de seu amadurecimento que conduz para um final muito impactante.

Tecnicamente os produtores de Mad Men capricharam para que tudo funcionasse, a caracterização dos personagens e cenários é algo impressionante. Todos os detalhes ajudam a realizar uma experiência imersiva aos anos 60. É interessante observar que os figurinos da primeira temporada (que se passa no início dos anos 60) ainda é muito ligado à década anterior (vide a campanha da Coca Cola da primeira temporada), ao fim da série (já no fim dos anos 60) é possível observar uma sociedade muito diferente através de suas roupas e hábitos. A ambientação também é primorosa no cotidiano dos personagens, o tabagismo desenfreado (pessoas fumam no consultório médico e no cinema) é algo que pode assustar atualmente.

Todos os eventos mencionados, e alguns outros como a copa de 1966, são vividos no decorrer da história o que muitas vezes dá um tom documental à produção.  O ritmo talvez possa não agradar a todos uma vez que é lento e alguns arcos são desenvolvidos por temporadas inteiras (a modificação corporal de Peggy na primeira temporada para a revelação no final podia até ser óbvia, mas me pegou de surpresa).

A série encerrada em 2015 já é um dos clássicos da TV americana, vencedora de diversos prêmios como Globo de Ouro e aclamada pelos críticos. No fim, a experiência de assistir Mad Men é algo que ultrapassa o entretenimento simples, através de seus episódios é possível debater temas importantes e de compreender um pouco como o sonho americano também tem um pouco de pesadelo.

Mad Men

Todos prontos para mais um dia na Sterling Cooper.

 

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